Atento aos sinais do tempo o agricultor falou de suas expectativas em relação ao que diz a natureza, afirmando que esse ano o inverno será mais tarde.
Em conseqüência da entrevista, Chagas Serafim foi capa desse jornal de grande circulação na região.
Confira na integra o que publicou o Jornal de Fato sobre o assunto.
Chuvas do sertão
JOTTA PAIVA De Umarizal
Umarizal - A chegada do inverno é sempre celebrada com alegria no semiárido. O período de chuvas mobiliza o povo a cerca do cultivo de alimentos, da engorda dos animais e da estocagem de insumos para enfrentar a próxima temporada de estiagem. Antes da chegada desse tempo, é tradição observar a natureza para saber se o inverno vai ser bom. Esse é o trabalho dos profetas e profetisas das chuvas. Para prever a fartura ou a escassez de água, esses sábios se baseiam por vários sinais da natureza, que vão desde a florada do trapiá, passando pela fase da Lua, até o canto do bacurau. Há 18 anos o agricultor Chagas Serafim, morador do Sítio Campos em Umarizal, registra detalhadamente todas as ocorrências das chuvas, identificando as diferenças entre um ano e outro.A prática de adivinhar as chuvas começou quando ele tinha 20 anos, no Sítio Campos, em Umarizal, local onde nasceu e mora até hoje. Nessa época seu pai lhe chamava, junto com seus irmãos, para educá-lo quanto à observação da natureza. "Ele dizia que para ser um bom agricultor e morador do campo a gente tem que entender e se dar bem com a natureza", disse.Quando chegava o primeiro dia do ano eles observavam o comportamento do vento e do nascer do Sol. "Meu pai dizia que se ventar bastante na madrugada do primeiro dia do ano é sinal de que o inverno será fraco", detalha Chagas.No dia 2 de fevereiro era feita outra observação: se amanhecesse chovendo era sinal de seca longa. "Nessa data é comemorado o dia de Nossa Senhora das Candeias. Quando meu pai faleceu, eu assumi a terra e as profecias das chuvas".De acordo com as pesquisas de Chagas Serafim, são muitos os sinais que a natureza dá a respeito da chegada do inverno. Quando o cupim abandona a casa, por exemplo, certamente o inverno vai ser fraco. "Em 1993 fui olhar uns ovos que as minhas guinés tinham posto, e perto havia uma casa de cupim. Decidi destruí-lo, mas quando olhei, eles tinham abandonado a casa, logo adivinhei que o inverno seria ruim, e de fato tivemos uma grande seca em 1993", lembra. Chagas também costuma procurar casas do pássaro joão-de-barro logo no início de janeiro. Se ela for construída com a porta voltada para o local onde o Sol se põe (poente), é sinal de inverno bom. Ele explica que também é importante observar quantas luas cheias há no mês. "Se acontecer mais de uma fase da lua cheia é sinal de pouca chuva, mas, se ocorrer apenas uma lua cheia, pode comemorar que o inverno vai ser dos bons", contextualiza.Para reforçar suas previsões, o agricultor compra todos os anos o Almanaque do Pensamento: um livro que contém todas as datas das luas cheias e da quarta-feira de Cinzas. Em sua opinião, se o início da Quaresma acontece cedo, quer dizer que o inverno será mais longo, porém se acontece tarde o inverno será mais curto. "Reunindo o que meu pai me ensinou com as datas desse livro eu consigo calcular o que dá para aproveitar das chuvas no ano" complementa.
O INVERNO DESTE ANO
"Eu acredito que neste ano nós teremos inverno bom em Umarizal", profetiza Chagas Serafim. Ele disse ter observado o vento da madrugada do dia 1° de janeiro e esse foi fraco; no dia 2 de fevereiro - Dia de Nossa Senhora das Candeias - não choveu pela manhã.Quanto à lua cheia, Serafim disse ter percebido que houve apenas uma fase. "Encontrei casa de joão-de-barro e vi que a sua porta está voltada para a direção onde o sol se põe", confirmou. Por fim, ele observou que neste ano a quarta-feira de Cinzas foi na segunda semana de fevereiro, o que não é muito tarde.
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